O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?

Quem é comerciante sabe que seu cliente deve ser tratado com privilégios, afinal, ele "sempre tem razão". Mas quando há inadimplência? Quando o famoso cheque pré, no momento de seu depósito, está sem provisão de fundos? Ou aquela duplicata não foi honrada na data de seu vencimento? Quando essa relação estremece, não há outra alternativa ao comerciante a não ser protestar título do inadimplente e, em casos extremos, há o registro de ocorrência na delegacia competente.
Saddam Hussein comprou dos Estados Unidos nos anos compreendidos de 1981 à 1991 cerca de 50% das armas do exército iraquiano, sendo que em 1988 atingiu uma dívida de 8 bilhões de dólares. Para manter a "relação comercial", fez acordos para parcelamento do saldo devedor e em 1990 resolveu parar de pagar tal prestação. Talvez nesse momento Saddam tenha começado a preencher as lacunas de sua certidão de óbito. Primeiro veio a "Crise do Golfo" (um nome chique para guerra) com base na invasão pelo Iraque ao Kuweit por divergência no preço do petróleo e desobediência à determinação imposta pela ONU ao desarmamento iraquiano, que jamais aconteceu, os Estados Unidos, que lideraram a força de coalizão, mesmo sem o apoio da igreja católica, mandaram uma ordem a Saddam para que se retirasse do país sob pena de retaliação. Saldo: morte de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil kweitianos e 510 soldados da coalizão.
O segundo momento ocorreu após o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001, onde começou a chamada "caça ao terror". Acusado pelos Estados Unidos de possuir armas de destruição em massa e, sobre este pretexto, o governo Bush ordenou a invasão ao Iraque para rastrear ogivas e destruir possíveis armas nucleares, que jamais foram encontradas. Resultado da nova guerra: 350 mil mortes, sendo que em torno de 50% crianças e 3 mil soldados norte-americanos, 1 milhão de desalojados e 2 milhões de civis que migraram para outros países.
Restou a corte internacional condenar Saddam a forca por ter sido ele (sem provas contundentes) responsável pela morte de 182 pessoas na década de 80, por seu governo ditador. Cabe algumas informações adicionais: na guerra do Golfo os Estados Unidos utilizaram 40 toneladas de urânio enriquecido como munição, coincidência ou não, 10 anos depois, o número de casos de câncer no Iraque aumentou em 700%; os americanos possuem 10 mil ogivas nucleares em seu território, enquanto no Iraque não há nenhuma; os maiores contratos de reconstrução do Iraque pertencem à empresas norte-americanas, uma delas do vice-presidente dos Estados Unidos, Sr. Dick Cheney.
Não quero inocentar Saddam, tampouco prestigiar sua canonização, acho que ele é um dos males do mundo das últimas 3 décadas, mas não dá para aceitar que tal condenação tenha ocorrido apenas por seu governo ditador e ele ser apontado como principal ameaça para promover ataques terroristas. Fica claro que sua morte está ligada a vingança, que aliás, começa a gerar ruídos no oriente médio, grupos que apóiam Saddam Hussein já começam a manifestarem-se de forma violenta e reacionária.
É incrível que em pleno século XXI alguém seja enforcado da forma mais primitiva possível. O homem primitivo teria vergonha de tal execução que, até por ele, nunca foi utilizada. Como diz um trecho de uma música de uma famosa banda brasileira que neste caso serve como ilustração ao pensamento norte-americano: "homem primata, capitalismo selvagem".